Ansiedade

A ansiedade ocasional faz naturalmente parte da vida. A pessoa poderá sentir-se ansiosa quando, por exemplo, enfrenta problemas no trabalho, tem de fazer um exame ou tomar uma decisão importante. Mas as perturbações de ansiedade envolvem mais do que uma preocupação ou medo ocasional. Para algumas pessoas os sintomas não desaparecem, piorando com o tempo e interferindo com as suas atividades diárias, desempenho profissional/escolar e/ou relações pessoais e profissionais.

Em 2010, mais de 60 milhões de europeus tinham uma Perturbação de Ansiedade, resultando num custo total de mais de 74 biliões de euros, largamente devidos a gastos indiretos, como a incapacidade. Em 2017, em Portugal Continental, as perturbações de ansiedade afetavam uma proporção de 6,51% dos utentes inscritos nos cuidados de saúde primários.

A maioria das perturbações de ansiedade surge durante a infância, adolescência ou início da idade adulta

80-90% dos casos manifestam-se antes dos 35 anos de idade - podendo, quando não tratadas, tornar-se crónicas. A mulher é frequentemente mais afetada, numa proporção de cerca de 2:1. Não obstante, para algumas perturbações de ansiedade, a ansiedade pode emergir na vida adulta e em idades mais tardias (p.e., perturbação de ansiedade generalizada). Vários fatores de risco e de vulnerabilidade promovem a evolução da ansiedade normal para ansiedade disfuncional. Alguns desses fatores estão relacionados com o risco de desenvolvimento de qualquer perturbação de ansiedade, enquanto outros se associam a perturbações mais específicas.

Estudos longitudinais prospetivos sugerem que todas as perturbações de ansiedade, particularmente a perturbação de pânico, agorafobia e perturbação de ansiedade social, são fatores de risco poderosos para o desenvolvimento de perturbações depressivas e abuso de substâncias. As consequências das perturbações de ansiedade, tais como fracasso escolar, baixo desempenho académico, desemprego e dificuldades laborais, em adição a problemas conjugais e interpessoais, podem combinar-se em escaladas persistentes de mais complicações ao longo da vida.

Em comparação com a ansiedade e medo comuns, que normalmente sentimos, as pessoas com perturbações de ansiedade sofrem de medo e/ou ansiedade excessivos e/ou persistentes. Entre as perturbações de ansiedade conhecidas encontram-se a Perturbação de Ansiedade Generalizada, Perturbação de Ansiedade Social, Perturbação de Ansiedade de Separação, mutismo seletivo, fobias específicas, perturbação de pânico e agorafobia.

Estas diferem entre si no tipo de objetos ou situações que induzem medo, ansiedade ou comportamento de evitamento, e na ideação cognitiva associada. No caso da Perturbação de Ansiedade Generalizada, as pessoas apresentam frequentemente os seguintes sinais e sintomas:

  • Preocupação excessiva com as situações do dia-a-dia;
  • Dificuldades de concentração;
  • Estão inquietas e têm problemas em relaxar;
  • Assustam-se facilmente;
  • Demonstram dificuldade em adormecer ou em manter o sono;

  • Apresentam dor de cabeça, dor muscular, dor no estômago ou dores inexplicáveis;
  • Denotam dificuldade em engolir;
  • Sentem-se irritáveis;
  • Transpiram muito, têm tonturas, tremores ou ficam sem fôlego;
  • Precisam de usar a casa de banho mais vezes do que o normal.

Apesar do seu peso em termos de saúde pública, a vasta maioria das perturbações de ansiedade permanece não detetada ou não tratada pelos sistemas de saúde, mesmo nos países economicamente mais evoluídos. O primeiro passo a tomar será consultar um médico e apresentar os sintomas. Este deverá proceder a uma avaliação e fazer perguntas sobre a sua história médica, de forma a certificar-se que nenhum problema físico está relacionado com os sintomas. Se necessário, o médico poderá referenciar a pessoa para um psiquiatra e/ou psicólogo. A maioria das pessoas que procura tratamento para a perturbação de ansiedade sente melhorias e desfruta de uma maior qualidade de vida. De uma forma geral, o tratamento poderá passar por psicoterapia (p.e. terapia cognitivo-comportamental) e/ou medicação (geralmente benzodiazepinas e antidepressivos).

Bibliografia consultada

1. The National Institute of Mental Health. disponível em: http://www.nimh.nih.gov/health/topics/anxiety-disorders/index.shtml consultado em 22/11/2019;

2. Anxiety and Depression Association of America (ADAA). Generalized Anxiety Disorder. Disponível em: http://www.adaa.org/sites/default/files/ADAA_GeneralAnxietyDisorderBrochure.pdf consultado em 22/11/2019;

3. Remes O, et al. Brain and Behavior, 2016 ; 6(7), e00497

4. Ministério da Saúde. Retrato da Saúde 2018. Disponível em: https://www.sns.gov.pt/wp-content/uploads/2018/04/RETRATO_DA_SAUDE_2018_compressed.pdf consultado em 27/03/2019;

5. Michael T, et al. Psychiatry 2007 ; 6(4) :136-142

6. American Psychiatric Association. 2013. DSM-5: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders. 5th Edition.

7. Nat Rev Dis Primers.2017 Dec 14 ;3:17100

8. Eric Michael Kaplan & Robert L. DuPont. 2005. Current Medical Research and Opinion, 21:6, 941-950

9. JAMA. 2017 Jul 18;318(3):235-236

10. National Institute of mental Health (NIH). Generalized Anxiety Disorder: When Worry Gets out of control. Publicação nº QF 16-4677. Ultima revisão em 2016.


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